Certos da importância da cultura negra e ameríndia em nosso país, decidimos compartilhar as informações que foram pesquisadas sobre o ritual religioso conhecido como Nação de Omoloko. Como em todas os rituais que compõem a religião afro-ameríndia-brasileira, há variações entre uma casa de culto e outra onde o ritual de nação Omoloko é praticado.
A importância de se conhecer um pouco desse ritual está ligada a própria história do NEGRO e do ÍNDIO em nosso país. Tradicionalmente européia, Santa Catarina registra em seu passado histórico um forte domínio da cultura branca, a começar pelos próprios portugueses açorianos que povoaram o litoral sul do Brasil, além é claro dos alemães e italianos, hoje fortemente representados e reconhecidos em todo território nacional pelas festas de outubro.
Onde entram as parcelas Negra e Ameríndia na formação cultural do Sul do Brasil ? Partindo de uma pesquisa sobre a cultura afro-brasileira da Grande Florianópolis, decidimos tornar público o material pesquisado, possibilitando uma viagem pela história que até pouco tempo era contada sem a preocupação do registro formal, tão necessário para a sua permanência na posteridade. Durante a pesquisa realizada sobre os rituais afro-brasileiros existentes na Grande Florianópolis, identificamos a Umbanda como sendo a prática ritualística mais tradicional ainda em atividade. Ela apresenta-se com diversas sub-denominações para seus rituais entre as quais Umbanda de Omoloko. O Omoloko, apresenta-se como um segmento de origem africana que surgiu no Brasil oriundo de uma miscigenação que ocorreu na época da escravidão. Afinal, os rituais religiosos que encontramos atualmente nos terreiros são heranças de um tempo onde a cultura negra era envolvida num sincretismo que unia os orixás africanos aos santos católicos. Nas senzalas, a cultura negra ricamente representada era mantida de forma original aos olhos dos negros e paramentada com formas e objetos que pudessem satisfazer os interesses dos senhores donos das terras. Como relatam inúmeros autores que escreveram sobre religião afro-brasileira, por baixo das imagens de santos católicos estavam "assentados" os Orixás.
O Omoloko é originário do Rio de Janeiro, que também serviu de berço para o surgimento da Umbanda, conforme relatam alguns estudiosos. No Rio de Janeiro, antes mesmo da origem oficial da Umbanda (1908), já eram comuns práticas afro-brasileiras similares ao que hoje conhecemos como Cabula e Omoloko. A cultura de um país é avaliada pelos reflexos conjunturais das atividades: científicas, artísticas e religiosas de um povo. Evidentemente essa cultura foi adquirida aos poucos, advindas de outras culturas através dos séculos. Segundo Tancredo da Silva Pinto, Tatá Ti Inkice, em seu livro Culto Omoloko - Os Filhos de Terreiro - Omoloko é uma palavra yoruba, que significa: Omo - filho e Oko - fazenda, zona rural onde esse culto, por causa da repressão policial que havia naquela época, os rituais eram realizados na mata ou em lugar de difícil acesso dentro das fazendas dos donos de escravos. Talvez por causa disso hoje temos as denominações de “terreiro e roça” para os lugares onde os cultos afro-brasileiros são realizados. Nesse culto os orixás possuem nomes yoruba (Nagô), até seus Oriki (tudo aquilo que se relaciona ao Orixá) e seu Orukó (nome) são trazidos através do jogo de búzios ou Ifá. Seus assentamentos parecem-se com os do candomblé Nagô. Os Exus também são feitos de argila a semelhança de uma pessoa ou então simbolicamente em ferro. Podemos relacionar o significado da palavra Omoloko também ao Orixá Okô, a deusa da agricultura, que era adorado nas noites de lua nova pelas mulheres agricultoras de inhame. Antigamente, o Orixá Oko era muito cultuado no Rio de Janeiro. Esse Orixá era assentado junto com Oxossi, o que viria dar maior consistência a origem do culto Omoloko que é fortemente influenciado por Oxossí. O culto a Oxóssi é o que melhor marca o contexto religioso dos negros afro-brasileiros, bastando que para isso notarmos o destaque dado ao culto de caboclo, que está intrinsecamente ligado a Oxossi. Também segundo o Tatá Ti Inkice Tancredo da Silva Pinto, considerado o organizador do culto Omoloko no Brasil, na África, os sacerdotes do culto Omoloko realizavam suas liturgias em noites de lua cheia sob a copa de uma frondosa árvore carregada de frutos parecidos com maçã. Segundo ele, o culto Omoloko chegou ao Brasil proveniente do sul de Angola, onde era praticado por uma pequena nação pertencente ao grupo Lunda-Quiôco que ficava as margens do rio Zambeze, que chamavam Zâmbi e que lhes fornecia alimentação no período das cheias.